Giácomo Balbinotto Neto
Economista, professor da UFRGS, pesquisador do IATS
Corecon/RS nº 4815
O que é Economia da Saúde?
Trata-se de um campo de conhecimento relativamente novo dentro da teoria econômica, tendo como origem a publicação do artigo de Kenneth Arrow, em 1963. É voltado para o desenvolvimento e uso de ferramentas de economia na análise, formulação e implementação das políticas da saúde, com atuação no desenvolvimento de metodologias relacionadas ao financiamento do sistema, a mecanismos de alocação de recursos, à apuração de custos, à avaliação tecnológica, entre outros. A economia da saúde busca o aumento da eficiência no uso dos recursos públicos e a eqüidade na distribuição dos benefícios da saúde por ele propiciados.
Como está o Brasil e o Rio Grande do Sul no desenvolvimento de projetos ligados à economia da saúde?
No ano de 2014, o setor brasileiro da saúde consumiu recursos da ordem de R$ 557 bilhões, o equivalente a cerca de 10,1% do PIB nacional. O Brasil é o quinto maior mercado consumidor de medicamentos, o que nos dá uma ideia da dimensão de sua estrutura na economia brasileira. Do ponto de vista acadêmico, o Brasil e o RS ainda estão engatinhando. Aqui no RS, temos grupos de estudos na PUCRS e na UFRGS. Temos um instituto de tecnologias em saúde, onde congrega não apenas economistas, mas epidemiologistas, médicos, matemáticos e outras áreas, que é um centro de referência nacional, onde mais se produz na área da economia da saúde. Entre as 20 maiores instituições gaúchas, em termos de faturamento, estão o Hospital Conceição e o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, e onde se encontra mais formação em medicina, como os hospitais São Lucas, da PUC, ou, mesmo, o Hospital Mãe de Deus. Também temos um centro de excelência na área de transplantes, como a Santa Casa de Misericórdia.
Por que o estudo da economia da saúde tem se tornado uma disciplina importante e interessante para os economistas?
Por três razões: pelas dimensões da contribuição do setor para a economia como um todo, especialmente pelo tamanho do seu PIB; pelas preocupações com as políticas de saúde, como hospitais, financiamento, vacinação, preço de medicamentos, seguro, etc; e pelo número de problemas de saúde dotados de um elemento econômico substancial, que é a remuneração de médicos, viabilidade econômica de hospitais, filas de transplantes, regulação econômica do setor, planos de saúde, prática médica, equidade, acesso, seguro social, entre outros. Além disso, ele tem se constituído num ramo progressivo, tanto do ponto de vista teórico como empírico.
De que forma o economista, com seu conhecimento, pode atuar nessa área?
Os economistas têm desenvolvido instrumentos de análise econômica, que buscam dar conta de especificidades de sua formação, como técnicas econométricas, para lidar com dados de saúde. Isso faz de um economista da saúde um profissional importante e requisitado. Se perguntarmos a qualquer cidadão comum, por exemplo, o que lhe vem à cabeça quando falamos de Sistema Único da Saúde (SUS), ele já pensa em fila, mal utilização de recursos, mal atendimento, e é justamente aí que entra o economista. Não é nosso objetivo primordial a redução do custo. É nossa meta a melhor alocação desses recursos, que são escassos, para obter melhor desempenho. E aí passa por outras questões, como financiamento da saúde, como pagamos a conta que está crescendo, a população está envelhecendo e está passando por uma transição epidemiológica, o que é premente na questão do financiamento. Também, a formação dos recursos humanos, com o extenso período para a formação de um médico ou, mesmo, para construir um hospital, cujos investimentos também são extremamente elevados. Aí é que entra o economista, no sentido de viabilizar essa parte de recursos, de finanças públicas, que é extremamente importante como deve ser alocado. Também, todo o contexto que envolve a produção e distribuição de medicamentos, de seguro saúde, de alocação de recursos. O campo de atuação do economista é muito grande e crescente nessa área.
Por que a farmacoeconomia é considerada uma das profissões em maior ascensão?
Esta nova disciplina avalia o valor global dos produtos farmacêuticos, abordando os aspectos clínicos, econômicos e humanísticos das intervenções de cuidados à saúde, aplicados à prevenção, diagnóstico, tratamento e gerenciamento de doenças. A farmacoenonmia envolve avaliação e direcionamento de investimentos baseados numa distribuição mais racional de recursos, permitindo aos profissionais conciliar necessidades terapêuticas com possibilidade de custeio individual das empresas provedoras de serviço do sistema de saúde. Com base nisso, algumas revistas, quando abordam as profissões do futuro, têm apontado a farmacoeconomia como uma delas. É uma mescla profissional de formação farmacêutica e economia, que vem tendo uma demanda crescente, até mesmo em função de que todo e qualquer medicamento tem que passar pela análise da Associação Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Necessita de um laudo de impacto econômico, um laudo fármaco-orçamentário, e isso o economista está capacitado para fazer, através do entrelaçamento com outros profissionais, como epidemiologistas, estatísticos, matemáticos, farmacêuticos, médicos, enfermeiros, enfim. Devemos trabalhar em grupo para que possamos proporcionar melhores respostas a essas necessidades, que são cada vez mais prementes numa sociedade que almeja maior qualidade de vida e saúde.
Fonte: http://coreconrs.org.br/economia-em-dia/395-economia-da-saude-e-o-mercado-de-trabalho-para-economista.html