Coordenador-Geral da CGEDS (Desid/Sectics/MS)
Dizem que os mineiros têm o talento de transformar qualquer conversa em prosa boa, e o servidor do Departamento de Economia e Desenvolvimento em Saúde (Desid) Gustavo Laine é a prova disso. Equilibrando o pragmatismo técnico com a sensibilidade nata, ele sabe não apenas como promover um bom conversê, mas também bons espaços de trabalho: “Gosto de construir ambientes saudáveis, tanto no trabalho quanto na comunidade, e não meço esforços para colaborar”.
E não mede mesmo. Talvez porque carregue em si o senso de coletividade: “Eu sou porque nós somos”, gosta de citar, lembrando do conceito da filosofia africana “Ubuntu”. Para o servidor, a coletividade é a essência do Sistema Único de Saúde (SUS) e a missão dos que atuam por ele: “Acima de tudo, é necessário compreender que nossas decisões afetam a comunidade. Não estamos somando indivíduos, mas garantindo a Saúde Coletiva e construindo comunidades saudáveis”.
Farmacêutico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Gustavo começou sua trajetória profissional com o sonho de ser comerciante e abrir uma farmácia em sua cidade natal, Pará de Minas. Mas o primeiro ano de faculdade trouxe as primeiras lições sobre o SUS, que logo desenharam um novo militante: “Entendi, ali, que queria trabalhar pela saúde pública. Foi amor à primeira vista”.
Essa paixão pelo SUS o levou a concluir seu mestrado em Saúde Pública em 2012 e o doutorado em Assistência Farmacêutica, em 2017, ambos pela UFMG. Durante a graduação, um estágio, quase por acaso, o apresentou à farmacoeconomia, um ramo da Economia da Saúde – que ele ainda não conhecia. Desde então, ele tem dedicado sua carreira a estudar e implementar soluções para melhorar o uso dos recursos no sistema de saúde brasileiro.
O contato com os estudos de custo-efetividade fez com que muita coisa fizesse sentido para Laine: “Quando comecei a entender como o SUS escolhia quais eram os melhores medicamentos para a população, percebi que era isso que eu queria fazer”. Essa foi a fagulha que o levou, em 2024, à liderança da Coordenação de Avaliação em Economia da Saúde (CAES). E que, quase um ano depois, o leva a assumir o novo desafio de liderar a Coordenação-geral de Estudos Estratégicos em Desenvolvimento e Saúde (CGEDS).
Antes disso, Gustavo teve muitas outras conquistas profissionais, entre elas, sua atuação no Programa Nacional de Vigilância da Hanseníase. Sob sua liderança, foram incorporados novos testes diagnósticos e atualizadas diretrizes que revolucionaram o cuidado aos pacientes. “Depois de 40 anos sem inovações, pudemos trazer avanços significativos. Foi uma das maiores recompensas da minha trajetória”, acredita.
Mas nem só de trabalho vive o coordenador, é claro. Embora sua dedicação ao SUS seja inquestionável, ele faz questão de equilibrar a vida com momentos de descontração e escape. Mineiro de fala tranquila, Gustavo revela outra faceta ao ligar o som do carro para enfrentar o trânsito de volta pra casa: o heavy metal corre solto no trajeto e as cordas vocais seguem a mesma premissa.
Longe do trabalho, ele troca o terno por momentos de brincar com a filha e de colocar o papo em dia com a esposa, mas também garante o “tá pago” na academia em dias alternados. É também no futebol que seu coração bate mais forte: torcedor apaixonado do Galo, Gustavo, que já quis ser jogador profissional (sim), analisa cada jogo com a mesma paixão que aplica à sua carreira: “Para mim, futebol é estratégia. É inspirador ver como tática e habilidade constroem um espetáculo”.
Sua conexão com a música também traduz a essência de sua personalidade e missão. Na epígrafe de sua tese de doutorado, o coordenador citou duas letras que refletem o equilíbrio entre razão e emoção que permeia sua trajetória. “Alucinação”, de Belchior, celebra a força transformadora das experiências concretas: “São as experiências com coisas reais que nos permitem amar e mudar as coisas”, explica ele. Já “Voice of the Voiceless”, de Heaven Shall Burn, ecoa a urgência de combater a exclusão social. Ambas culminam em uma visão que define o propósito de Gustavo no SUS e na vida, muito bem defendida pela filósofa e economista Rosa Luxemburgo: “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente livres e totalmente diferentes!”.
Priscilla Leonel
Ministério da Saúde