Perfis do SUS | Anderson José Rocha da Silva

Filho de dona Jandaira e seu Antonio (que se preocuparam em formar seus três filhos antes mesmo de se formarem), Anderson José Rocha da Silva desvia o olhar desta entrevistadora que vos escreve, como que “catando” as palavras em sua mente (como se diz em baianês), para tentar descrever sua paixão pela música: “Não importa se estou tocando para um casal ou em cima de um palco para milhares de pessoas: é sobre tocar as pessoas. A música tem esse poder de mexer com nossas emoções”.  

Anderson atua como coordenador da CAPES (Coordenação de Análise Política em Economia da Saúde), mas já fez parte, por mais de 10 anos, da CCUSTOS (Coordenação de Gestão de Custos). Tem na Estatística uma de suas profissões: fez também curso técnico em Instrumentação Industrial, tem Especialização em Economia da Saúde e é músico profissional há mais de 20 anos. “Não venho de uma família de artistas. Sou o primeiro e único músico que se profissionalizou na área”, revela. 

Aliás: a música é um dos elementos essenciais para definir esse baiano vindo de Salvador, que entre a paixão pelos teclados e as idas e vindas por turnês estrada afora, encontrou em Brasília o sossego de uma cidade pacata, onde pratica a empatia herdada da família para trabalhar pelo Sistema Único de Saúde e a alegria de dividir seus dias com seu filho Gabriel, de 11 anos, com quem compartilha um grande amor em comum, genuinamente, de Pai para filho: torcer pelo Bahia. 

A ironia do destino é que aquela que primeiro lhe ensinou piano leva o nome do rival do seu time: Vitória. A professora morava em frente à papelaria dos seus pais, que abriram o negócio após seu Antonio, participante ativo de um movimento grevista nos anos 1990, ter sido demitido de uma multinacional de indústria química na Bahia. Vitória ia frequentemente tirar xerox das partituras para seus alunos quando seu Antonio, curioso com aquelas cópias, perguntou se ela poderia ensinar o instrumento ao seu filho. 

Hoje, o homem de 44 anos vira para o menino de 11, lá atrás, quando começou a dedilhar suas primeiras notas naquele instrumento que lhe abriria – e abre – tantas portas, e diz, com total segurança, que valeu a pena todo o esforço, tantas horas estudando para chegar em um nível melhor e ser reconhecido pelas pessoas que escutam e curtem o som. 

O músico

Conhecido artisticamente como Amokachi, considera-se um músico versátil, tendo tocado com bandas de diversos estilos musicais, como pagode, axé, samba, reggae, salsa, jazz, fusion, pop, rock, MPB, sertanejo e até forró. Em 2012, no Carnaval de Salvador, antes de migrar para Brasília, tocou em um camarote com a presença da atriz norte-americana Sharon Stone. 

Ainda nas andanças proporcionadas pela música, teve a alegria de dividir palco com um de seus grandes ídolos: “Onde Gil está muda todo o ambiente. É uma energia diferenciada, chega a ser mágico”, conta. O ano era 2008, e ele acompanhava a cantora baiana Mariella Santiago na apresentação para recepcionar a então secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, com a participação do então ministro da Cultura, Gilberto Gil.  

Anderson tocando ao lado de Gilberto Gil, Condoleezza Rice e Mariella Santiago em evento na Bahia. (Foto: Acervo pessoal)

Ao longo de sua carreira, tocou com artistas como Carlinhos Brown, Mikael Mutti, Munir Hossn, Sarajane, Carla Cristina, entre outros. Com Brown, inclusive, participou da gravação da música “Tantinho”, que está no disco “Adobró” (2010). Teve o prazer de participar de shows de abertura de artistas e bandas importantes nacionalmente como Gal Costa, Alceu Valença, Chico César, BaianaSystem, entre outros.

Em 2016, inscreveu “Samba pro Biel” no Festival de Música da Rádio Nacional Brasília, composição instrumental que fez para homenagear seu filho, Gabriel – e que a gente pode escutar clicando aqui.

Mas se engana quem pensa que o que trouxe Anderson pela primeira vez a Brasília foi o concurso público: “Em 2004, um grande amigo meu cantor fez o convite para que eu viesse tentar a vida como músico aqui. Mas com o mercado pouco aquecido, comecei a dar aulas de teclado e a secretariar uma escola de música no Guará”, relembra. 

Anderson no estúdio em Salvador com o parceiro musical Mikael Mutti (ao centro). Mutti participou, junto a Brown e Sérgio Mendes, da trilha sonora do filme de animação “Rio” (2011). (Foto: Acervo pessoal)

Apesar das várias histórias de bastidores, estradas e performances em grandes palcos, Anderson, que é pisciano de nascença, se descreve como uma pessoa tímida e sensível. A vida de servidor público veio se materializar, como para muitos brasileiros, como um sonho dos pais. Em 2012, recebeu o telegrama que o faria assumir a vaga no Ministério da Saúde.  

A transversalidade da área da Estatística é quase como uma melodia aos olhos deste servidor: o uso das ferramentas e técnicas para analisar dados, projetar cenários, identificar tendências, comportamentos e as dinâmicas dos números soam como elementos que compõem uma só melodia.

“Estou numa área meio, de estudos, não-assistencial, o que não deixa de ser extremamente importante para pensar que o que produzimos diariamente, em alguma magnitude, será abraçado por alguém na escolha da alocação dos recursos para a saúde do nosso país, afinal, ela é um direito de todo cidadão. Estamos teoricamente à distância de quem consome, mas isso sempre me acompanha: a empatia de querer ver o cidadão bem, com mais saúde e dignidade”, afirma. 

Morador do Cruzeiro Novo, ele prefere ficar com o filho nas horas vagas. Jogar futebol, ir a um cineminha, assistir séries e tocar seu piano digital que fica permanentemente montado em sua sala, local onde também escuta muita música instrumental, como bossa nova, salsa e jazz.  

Quando na Bahia, gosta de comer moqueca de camarão e de ir ao Estádio da Fonte Nova com seu filho, que coleciona sempre a camisa do ano do seu time do coração. “A alegria do povo baiano talvez tenha surgido para espantar o tanto de sofrimento causado pela escravidão que teve por lá. Salvador é uma cidade mágica que carrega uma energia impressionante. É de lá que deriva toda essa história do Brasil, essa energia da África, do ritmo que pulsa”, conta. 

Nossa prosa foi terminando como dois bons nordestinos que conversam ao final da tarde, olhando para o horizonte, à beira do mar: lembrando o bem que faz mergulhar nas ondas, sentir a brisa do vento, enxergar os vários tons de azuis e ativando memórias de um Nordeste que não sai de dentro da gente.  

Drão 
Os meninos são todos sãos 
Os pecados são todos meus 
Deus sabe a minha confissão 
Não há o que perdoar 
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão 
(Drão – Gilberto Gil)

Raquel Monteath
Desid/Sectics/MS

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