No ano em que exerce a presidência pró-tempore do Brics (arranjo de países emergentes composto também por China, Rússia, Índia e África do Sul), o Brasil coordenará diversos encontros com o intuito de propor temas prioritários para ações entre os países membros. Prestes a completar 120 anos, a Fiocruz assumiu o papel estratégico de fortalecer, no âmbito do Brics, uma de suas experiências mais exitosas de cooperação horizontal: a Rede Global de Bancos de Leite Humano. A Fundação sediará, em Brasília, entre os dias 28 e 30 de agosto o 1º Workshop Brics em Banco de Leite Humano.
Articulada com o Ministério da Saúde do Brasil, a iniciativa marcará a primeira vez que o Brics, por meio de seus representantes do setor saúde, discutirá a ação Banco de Leite Humano como estratégia de política pública e seus benefícios para a melhoria das condições de saúde de recém-nascidos e mulheres em processo de amamentação. Haja vista o reconhecimento pela Organização das Nações Unidas do impacto positivo da experiência brasileira, é esperado, no encerramendo do Workshop, a construção de uma ata que reúna compromissos e diretrizes comuns entre os países membros do bloco.
“O encontro reforça o compromisso do bloco para além dos temas econômicos. Configura a oportunidade para uma ação conjunta do Brics com a saúde global, mais especificamente no que se refere aos Objetivos 3 e 17 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, ressaltou o coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano, João Aprigio Guerra de Almeida.
Durante os três dias, os países membros do bloco terão a oportunidade de conhecer o modelo brasileiro de Banco de Leite Humano em visitas exploratórias às instalações do Distrito Federal. A programação também inclui palestras sobre a trajetória da ação no Brasil; estratégias de operacionalização; alinhamento com a saúde global; aulas práticas de processamento e controle de qualidade, a partir dos preceitos técnico-científicos desenvolvidos no país; além de um painel com a experiência de cada um dos países no tema.
Realidade mundial e a experiência brasileira
Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde, em nível global, apenas 36% das crianças de zero a seis meses foram amamentadas exclusivamente entre 2007 e 2014. Análises recentes indicam que práticas como a amamentação não exclusiva, contribuem para 11,6% da mortalidade em crianças menores de cinco anos. Diante deste cenário, a Assembleia Mundial da Saúde, aprovou por unanimidade um conjunto de seis metas globais de nutrição, incluindo o aumento nas taxas de aleitamento materno exclusivo, a ser alcançado até 2025 para melhorar a nutrição materna, neonatal e infantil em todo o mundo.
Contudo, é reconhecido que, em algumas circunstâncias, a mãe pode ser impossibilitada de amamentar devido a problemas de saúde ou à ausência de um sistema de apoio adequado. No caso do Brasil, foi possível reduzir significativamente a taxa de mortalidade infantil com, dentre outras iniciativas, investimentos na implantação de Bancos de Leite Humano como casas de apoio à amamentação em todo o território nacional.
Atualmente, o país conforma a maior e mais complexa Rede de Bancos de Leite Humano do mundo com 225 unidades presentes em todos os estados, além do Distrito Federal. Somando os países que mantem cooperação técnica com o Brasil, esse número chega a 337 bancos de leite em funcionamento. Os compromissos, iniciados pela Fiocruz em 1998, foram reconhecidos pelo Ministério da Saúde e materializados como ação estratégica da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança, estando organicamente integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS). No âmbito do Brics, até 2017, Rússia, China, Índia e África do Sul totalizaram cerca de 100 Bancos de Leite Humano, regidos sob as mais diversas formas de operação.
Fonte: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br