Perfis do SUS | A dupla dinâmica do Siops

Quem já teve a oportunidade de ver as duas em ação sabe que, ali, é a “corda e a caçamba”. Nós  conversamos com a dupla via videochamada porque, como já era de se esperar, estavam mais uma vez em campo. Dessa vez, em Matinhos, no Paraná (a 14ª capacitação do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde, o Siops, deste ano).

Se você perdeu o fôlego só de pensar, não perde por esperar: essa dupla dinâmica tem histórias de fazer inveja aos roteiristas de quadrinhos, acumuladas ao longo desses quase 10 anos de capacitações Brasil afora. Na verdade, quem ganha é o Ministério da Saúde, por poder contar com duas profissionais qualificadas, sensíveis, didáticas e dedicadas em escutar as necessidades e repassar informações técnicas necessárias para quem lida com o preenchimento do Siops, que subsidia dados de extrema relevância para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Elas fazem parte do Departamento de Economia e Desenvolvimento em Saúde (Desid), que lida com muitos números, estatísticas, análises, cuja maior parte de sua equipe atua dentro do próprio escritório. Desde 2016, o departamento idealizou um tipo de capacitação itinerante, que vai muito além dos espaços formativos de Congressos, em uma chance única para gestores, técnicos e contadores dialogarem e tirarem dúvidas sobre o sistema in loco – recebidos sempre com um sorriso da dupla à espreita!

A empatia pelas duas é de imediato. Carla Cavalcanti, que é formada em Enfermagem, Direito e especialista em Economia da Saúde, advogava e foi parar, por um acaso (das deusas), na gestão pública em saúde da Paraíba, seu estado de origem. “O SUS é um caso de amor. Eu me apaixonei pela área da Vigilância em Saúde, onde atuei por muito tempo, mas nunca pensei que viria parar em Brasília. Vim fazer uma prova para o Tribunal Regional do Trabalho, mas acabei ficando no ponto de corte. Depois, vi um processo seletivo aberto no Ministério, me inscrevi e fui selecionada. Era maio de 2013, e aqui estou até hoje”, relembra, e se emociona: “Levei apenas uma malinha de bordo para fazer um concurso e veio toda essa grande história que muito me honra”.

Já a sua dupla infalível – a contadora brasiliense Célia Carvalho – coleciona uma diversidade de especializações em seu currículo (Controladoria, Auditoria, Perícia Contábil, Monitoramento e Avaliação em Saúde), mas tem na docência do ensino superior uma de suas grandes realizações. “São mais de 10 anos lecionando em cursos de Ciências Contábeis e Administração. Essa experiência não só com o SUS, mas com a gestão pública, é algo inimaginável. As portas foram se abrindo e o conhecimento que venho adquirindo a cada dia me enriquece pessoal e profissionalmente. Não tem quem trabalhe no SUS e não diga que ame”, conta Célia, que entrou no Ministério em 2013 e, por sorte nossa, continua desempenhando seu ofício de paixão que é repassar conhecimentos adiante.

A capacitação que as duas oferecem consiste em um processo de formação permanente. Como há muita rotatividade entre as equipes dos municípios e estados que preenchem o Siops, a continuidade das atividades se faz necessária e, a cada ano, trazendo as inovações do sistema. “A gente sentiu a necessidade de um treinamento mais focado no usuário. Era preciso estar ali, junto de quem está na ponta do SUS”, diz Carla.

A escolha pela descentralização das atividades funcionou e trouxe tanto uma riqueza regional quanto uma bagagem de experiências e aventuras para as duas. “Podemos observar de perto a realidade dos entes federados. Traçamos um panorama de qualificação das informações e isso faz com que elas sejam repassadas de maneira responsável, que o profissional que preenche o sistema perceba o quanto seu papel é importante nesse processo”, complementa Célia.

 

Sobre o Siops

O Siops traz uma interoperação direta. As informações transmitidas por lá são importadas pelo DigiSUS, bem como pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS), o que torna ainda mais enriquecedor esse trabalho. Com o tempo, a dupla foi ganhando seguidores no próprio Ministério, e as parcerias no departamento e com outras áreas foram só crescendo.

“Antes, atuávamos de maneira mais isolada, mas o diálogo entre as áreas tem sido cada vez maior. A Coordenação de Ações Estruturantes em Economia da Saúde (Caesa), por exemplo, participa junto com a gente desde 2023, explanando sobre a economia da saúde e a necessidade da criação e fortalecimento dos Núcleos de Economia da Saúde. Além disso, temos a parceria com o Departamento de Gestão Interfederativa e Participativa, com a explanação do DigiSUS Gestor, e o FNS com o InvestSUS. É um processo que vem agregando força e transparência de informações para o próprio Desid”, explica Carla.

Ao final de cada capacitação, a dupla aplica um questionário avaliativo cujos resultados somam praticamente 100% de satisfação dos usuários. “Isso faz com que a gente tenha fôlego para continuar”, revela Célia.

 

De malas prontas, outra vez!

“É muito gratificante quando vemos, dois ou três meses após a capacitação, as pendências de transmissão no sistema sendo regularizadas pelos usuários, além de uma melhora das informações transmitidas”, afirma Carla. “A vida é correr riscos”, ensina a esta que vos escreve, quando questionada se cansa da rotina de viagens.

Elas trabalham juntas, ajudam uma à outra e provam, por A + B, que trabalhar em equipe é inspirador. “Não é só estar ali na frente, são dois dias muito intensos. É necessário fazer um trabalho em conjunto, uma dá suporte enquanto a outra apresenta, e vice-versa. Não conseguiríamos sozinhas. Esse processo é por amor, falamos sobre o mesmo tema, embora com atualizações, há quase 10 anos, com o mesmo ânimo, a mesma desenvoltura”, ensina Célia, sobre o prazer de se trabalhar com o que se acredita.

Elas confessam ter um grito de guerra que é marca da dupla: “Uhul, mais uma etapa vencida! Graças a Deus!”. “A gente tem muita fé. No início, a Carla era super medrosa para viajar de avião. Com o tempo, foi se acostumando. A gente partilha o mesmo quarto e temos algumas manias: eu odeio o frio, já ela, ama. Por isso viajo sempre com meu meião”, brinca Celia. “A Celia sempre traz um meião de jogador de futebol! Ela consegue sentir frio até no Piauí” emenda Carla, referenciando a viagem que fizeram para um dos estados mais quentes do Brasil.

 

Histórias sem script

Mas nem só de sorrisos se conta essa história. Aliás, eles podem até vir, uma hora ou outra, mas só depois de vividas certas experiências engenhosas, alguns perrengues, aqueles que fogem completamente do nosso roteiro, como na ida para Teófilo Otoni, em Minas Gerais. “O avião tinha nove assentos, parecia uma folha de papel! Pensei: seja lá o que Deus quiser! Célia, que é a mais corajosa de nós duas, foi o voo inteiro de olhos fechados”, revela Carla. Um outro foi quando elas descobriram que iam voar numa companhia aérea que havia protagonizado um trágico acidente meses antes. “Quando chegamos tivemos vontade de beijar o chão! Fomos o voo todo em preces”, complementa.

Em outra situação elas tinham que ir até a cidade de Patos, no sertão paraibano, e quando foram viajar descobriram que havia um overbooking no avião, informado pelo aeroporto da região. Resultado: tiveram que ir até João Pessoa e, assim que aterrissaram, saíram “voando” estrada afora para pegar um ônibus na rodoviária. A viagem durou 4 horas. “Para variar, morri de frio no ônibus gelado. Mas meu meião estava comigo, não viajo sem”, diverte-se Célia. Quando chegaram, foram recepcionadas por um calor sertanejo de 40°.

Quando a rota da vez foi para Chapecó, o voo sairia na madrugada do dia do evento, ou seja, elas não tinham reservado um hotel para aquelas horas. “Fomos parar numa birosquinha, pé de chinelo, chegando lá tinha um ventilador que era a coisa mais terrível do mundo, pedimos um pastel, que não conseguimos comer… Saímos de madrugada, fomos até o aeroporto, e o voo havia sido cancelado”, lembra Célia. “Ficamos o dia inteiro à base de pão de queijo e café, no aeroporto lotado, fiquei um tempão sem querer comer isso”, diverte-se. A causa foram os nevoeiros, e os aviões não podiam sequer pousar.

Outra vez a aventura foi em Congonhas. “O avião arremeteu, nós ficamos cerca de 1h30 lá dentro sem poder descer. Congonhas estava um caos, com muita gente. Quando descemos enfrentamos filas quilométricas, pegamos um voucher errado com a companhia, fomos parar em outro hotel… Voltamos para o aeroporto e resolvemos revezar – uma dormia sentada enquanto a outra vigiava as malas, tudo isso sem perder o bom humor. No fim das contas, nos divertimos com tudo isso”, conta Célia.

*

Contando hoje, elas reforçam que levam tudo na esportiva. E quem vê as carinhas risonhas no vídeo narrando todas essas peripécias, sabe que elas estão falando a verdade. Talvez, trabalhar no Ministério da Saúde, numa causa tão grande quanto desafiadora, tenha resgatado nas duas suas crianças interiores, aquelas a quem não devemos esquecer jamais – imaginemos que a pequena Célia, ao ler as marcantes aventuras de “Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias”, seu livro preferido da infância, tenha se reconhecido na pequena Carla, cujo clássico livro “Pollyanna”, seu favorito, lhe ensinava a enxergar a magia que existe na infância.

Agora adultas, elas se encontraram para viver um mundo de histórias pelos quatro cantos desse Brasil, onde ajudam a construir, junto a muitas mãos, um sistema que olha por todos e para todos.

E nós concordamos com nossa dupla dinâmica: é um caso de amor, mesmo, esse SUS.

Raquel Monteath
Desid/Sectics/MS

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

For security, use of Google's reCAPTCHA service is required which is subject to the Google Privacy Policy and Terms of Use.

I agree to these terms.